domingo, 10 de março de 2013

Diário de Bordo - Dia 8 e 9

Estremoz - Badajoz

Foi a primeira vez que dormimos no chão, estreámos as esteiras e a experiência não foi, de todo, agradável! Acordámos com a sensação que tínhamos sido atropelados por um autocarro. Já estávamos engripados há uns dias e, o facto de dormirmos no chão, ajudou a que ficássemos cheios de dores no corpo. Mas tomámos o pequeno-almoço e a dose diária de medicamentos e toca a despachar!
Enquanto montávamos tudo na Abília, conversávamos com o Comandante. É camionista e ofereceu-nos boleia para Madrid ainda esta semana, agradecemos imenso mas não aceitámos, queremos realizar este desafio por nós mesmos e só em situações extremas aceitaremos uma boleia. Também nos avisou que o percurso a partir de Madrid não seria nada fácil, vamos apanhar muita montanha. Enfim, um dia de cada vez, no momento logo pensaremos nessas subidas.
A primeira paragem foi em Borba, parámos numa pastelaria pequena para bebermos um café e não resistimos a provar um doce típico do Alentejo (género de pirâmide de mel e açúcar com pedaços de bolacha) e uma fatia de salame para nos dar força. Os clientes, antes de entrar, repararam na Abília e meteram conversa.

- Então, estão a viajar? - perguntou uma cliente.
- SIm, vêm de Sintra e vão até Badajoz! - Disse a empregada.
- Sim, hoje vamos até Badajoz.
- E depois voltam para trás? - Perguntou a mesma cliente.
- Não, seguimos... Até à Noruega!
(Bocas abertas e Pasmo total)

Depois dos comentários e questões comuns (se os estudos estavam terminados, se juntámos dinheiro, quanto tempo ia durar, para aproveitarmos agora que somos novos, etc), pagámos e, enquanto saíamos, ainda conseguimos ouvir:
“Estes gaiatos...”
Até Vila Boim apanhámos algumas subidas que, como estamos constipados e só respiramos pela boca, nos fizeram soar e beber muita água. Pelo caminho, encontrámos uns caçadores que assavam um chouriço numa fogueira e perguntaram se não nos queríamos aquecer... Aquecer? Estávamos com tanto calor que se nos atirassem um balde de água fria ainda agradecíamos. Perguntámos se conheciam um sitio barato ali perto onde se comesse bem e indicaram-nos um sitio em Vale Boim. Até lá chegar, enfrentámos uma bruta subida mas acreditem que valeu a pena! Precisávamos de comida quente, pedimos uma dose de febras e deliciámo-nos! Desde as azeitonas, o pão, as febras tenras e muito bem temperadas, as batatas fritas caseiras e, para terminar, a mousse de chocolate caseira! Soube tudo muito bem e, realmente, não foi muito caro! E, quando estávamos a beber café, entraram os caçadores que tínhamos encontrado antes, acenaram contentes por nos ver!
De barriga cheia, lá voltámos ao pedal e, em menos de nada, chegámos a Elvas, onde tivemos que parar para fotografar a imensidão daquele aqueduto. Mete realmente respeito!
Só voltámos a parar na fronteira, junto à placa “España”. Para nós, aquela placa simbolizou uma vitória, o primeiro objectivo alcançado!
- Se há dois anos atrás te dissessem que ias estar agora a atravessar a fronteira de bicicleta, o que dizias? - Perguntou o Tiago.
- Ria-me e chamava essa pessoa de maluca, nem sabia andar de bicicleta. - Conclui eu.

A vida é irónica, de facto. Antes de partir, tivemos que ouvir comentários como “A grande notícia vai ser quando chegarem ao Pinhal Novo e voltarem para trás.” e “Tiago, vais ter que pedalar muito sozinho.” e, apesar de sabermos que chegar a Espanha ainda não é nada, olhar para a placa “España” fez-nos rir desses comentários.
Fizemos as últimas chamadas a custo 0 para os nossos familiares e arrancámos para a nova etapa. Ao chegar a Badajoz tivemos a sensação que atravessamos uma porta e entrámos noutra dimensão, dezenas de pessoas a deslocarem-se em bicicletas e a própria cidade fornecia condições para isso.
Ainda em Arraiolos, o Tiago viu, no Google Maps, onde ficava a casa da Elena (a rapariga que nos recebeu em Badajoz) e não é que se lembrava ao pormenor e viemos dar, sem enganos, direitinhos à casa dela? O Tiago tem um dom, tenho dito.
Antes de chegar, tivemos um grupo de miúdos a acompanhar-nos a passo de corrida, gritando “Portugal!”.
- De donde vienen?
- De Lisboa!
- Joe, lejos no?
- Bueno... Nos vamos a Noruega...
- QUE?!?! No me lo creo!
E correram em direcção a outro grupo, gritando o que tínhamos acabado de lhes dizer.
Bem, como conseguimos encontrar a casa da Elena, tocámos à campainha. Ela veio à janela dizer-nos “Hola!” e veio-nos ajudar com a carga, colocámos a Abília no prédio e subimos. Elena é muito simpática e tem uma casa acolhedora e repleta de arte. Em todas as divisões, existem dezenas de fotografias antigas e quadros. Dá gosto olhar para as paredes!
Tomámos banho, metemos a roupa a lavar e fomos ter com uns amigos dela ao centro de Badajoz, como era Sábado, vimos imensa gente na rua em espirito de “Fiesta”. Até chegar ao destino, Elena foi fazendo guia turística e mostrando um pouco da História de Badajoz. Passámos em Badajoz tanta vez e nunca tínhamos reparado em alguns monumentos realmente interessantes e bonitos.
Encontrámo-nos com os amigos de Elena, conversámos um pouco e um deles, Manoel, ofereceu-nos um mapa da Extremadura e casa no nosso próximo destino, Mérida! Fantástico! Manoel teve que ir embora e os restantes amigos tinham um concerto, seguimos então para um restaurante típico para petiscar algo. Sentámo-nos e qual não foi o espanto do casal amigo da Elena quando olharam para o lado e viram que a banda que iam ver dentro de uma hora estava sentada mesmo ao nosso lado!
Deixámos a Elena e os restantes escolherem a ementa e, desde o momento que os pratos chegaram à mesa, vimos que fizeram uma bela escolha! Provámos uns ovos estrelados com uns legumes, tudo misturado, que estava delicioso; fatias de presunto da zona que estavam no ponto e secretos de porco também muito saborosos.
O casal apercebeu-se que os membros da banda terminaram e sairam do restaurante e, despedindo-se de nós, fizeram o mesmo. A Elena, na hora de pagar, antecipou-se e ofereceu-nos aquele manjar! Agradecemos imenso!
Quando chegámos a casa já não tinhamos força nem para pestanejar e fomos dereitinhos para a cama!
O Tiago passou mal a noite, acordou todo suado e cheio de febre. Andamos a toque de medicamentos há já alguns dias e a noite em Estremoz tramou-nos ainda mais. De manhã, não estava melhor e nem se conseguia levantar, explicámos à Elena e ela disse-nos para ficarmos até amanhã, assim ele recupera e curamo-nos de vez. Aproveitámos para descansar e passear por Badajoz e amanhã seguimos para Mérida.



Até já,
T&T

1 comentário:

  1. Telma e Tiago, muito obrigada pelas vossas palavras. foi um prazer conhecé-los. Vocés sao pessoas muito bravas e com interesse de conhecer o mundo de outra forma. Eu gosto inmenso de saber de pessoas como vocés. Continuem con esta viagem da vida.
    Um abraço.
    Elena

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