Montemor-o-Novo - Arraiolos
Assim que nos deitámos, entrámos no mundo dos sonhos. Estávamos
preparados para, a qualquer momento, saltar da cama com a buzina dos
bombeiros caso houvesse alguma emergência mas, a única coisa que nos
acordou, foi o nosso despertador às 8 horas. Estávamos exaustos, ficámos
na ronha um bom bocado mas lá teve que ser.
Higiene feita e roupa vestida, bora lá para a tarefa diária de colocar
tudo na Abília - 45 minutos! Comemos qualquer coisa e fomos agradecer ao
Comandante, extremamente amável, por todo o apoio que nos deram. O sol
brilhava, mas o céu estava a escurecer e, como já estávamos
“escaldados”, vestimos os impermeáveis e seguimos viagem, isto às
10.30h.
Ainda estávamos doridos do dia anterior e durante o
caminho, já a chover, começámos a fraquejar e tivemos que parar a meio
do caminho. Sentámo-nos no chão, colocámos o toldo por cima de nós e,
comendo uma maçã, olhámos para o Além e pensámos (desesperando) “Quando é
que esta M**** de tempo vai passar?!”... Ficámos ali um bom bocado, a
chuva abrandou, parou e começou novamente... Bem, vamos lá!
Esquerda, direita, esquerda, direita... O Tiago pára. “Já não aguento mais! Fiquei sem forças.”
Doía-lhe imenso os braços, a Abília estava muito instável e exigia
muita força de braços para a controlar e o vento não ajudava em nada.
Sentámo-nos novamente, desta vez sem chuva. Foi o primeiro momento de
desespero, o primeiro teste, a primeira resistência. A Telma não
esperava aquela reacção do Tiago, ficou quase como paralisada mas
percebeu que tinha que agir. Abraçou-o, tentou, com calma, fazer-lhe ver
que desistir era a última coisa a pensar. Depois de uma boa e longa
conversa, os ânimos voltaram e apareceram soluções mais lógicas como,
revermos o que temos e tirar a carga que poderá estar a mais e que seja
dispensável.
Voltámos a pedalar e, a 7km de Arraiolos, avistámos
uma estação de serviço que ouvimos a chamar por nós! Parámos,
estacionámos a Abília e fomos comprar um gelado para nos alegrar o dia e
acomodar o estômago com um pouco de açúcar. Ficámos na esplanada (com
toldo) a olhar para a chuva a cair sem dó e começámos a fazer uma lista
mental do material que podíamos tirar. Entretanto, dois caçadores saem
do café e...
- Bah! Acho que deixei uma fresta da janela aberta! O meu banco deve estar todo molhado! - Disse um deles.
- Já nós não temos esse problema, o nosso é descapotável. - Disse o Tiago, rindo e apontado para a Abília.
- Então? Vocês estão a andar de mota com este tempo?!! - Exclamou o caçador.
- Não, é mesmo uma bicicleta! - Dissemos quase em coro.
- Ai! E vão os dois ali? Que loucura! Vão pra longe?
- Para a Noruega!
- Meu Deus!!! Isto é que é aproveitar a vida! Muito bem! Gabo-vos a coragem! Força han! - Disse enquanto saía.
Quando a chuva passou, retomámos caminho, muito mais animados e com
mais energia. Víamos uma subida (foram bastantes!) e riamos dela,
desfrutámos ao máximo das descidas (uma delas a 55km/h) e tirámos
algumas fotografias. Quando estávamos a chegar, começou a chover e
procurámos um abrigo, mandámos mensagem à rapariga de Couchsurfing que
estava à nossa espera e disse-nos que morava ao pé dos Bombeiros, que já
tínhamos visto que estávamos perto, então subimos uma rua e chegámos em
menos de 5 minutos. Conhecemos a Patrícia, colocámos a Abília na
garagem, levámos as malas para o “nosso” quarto e respirámos fundo!
Finalmente debaixo de tecto! Conversámos um pouco com a Patrícia para nos
conhecermos melhor, percebemos logo desde inicio que era uma excelente
pessoa, muito simpática, mente aberta e gosta de conhecer e descobrir.
Ela tinha que sair e deixou-nos a chave caso quiséssemos passear,
despimos os impermeáveis molhados, calçámos as botas secas e fomos
passear por Arraiolos. É uma terra muito bonita, tradicional e catita.
Fomos ao supermercado comprar o belo do pão alentejano e algo para beber
e seguimos para o castelo que estava no topo da cidade. Ao subir as
escadas até lá, íamos apreciando a vista magnifica da zona, escolhemos
um sitio para lanchar, sentámonos e, quando estávamos a deliciar-nos,
começa a chover! Vá de correr, nada de abrigos, restou-nos a entrada em
pedra do castelo. Passada uma hora, a chuva parou e lá fomos a passos
largos até casa, onde tomámos um banho quente.
Quando a Patrícia
chegou, preparou um jantar vegetariano, um género de legumes salteados e
cogumelos (gourmet!) com couscous que estava maravilhoso.
Conversámos tanto, que nem demos pelo tempo passar. Vimos o tempo para o
dia seguinte e ia chover a potes e fazer muito vento, também
precisávamos de descansar e ganhar forças para voltar a pedalar então
pedimos à Patrícia para ficar mais um dia e a resposta foi instantânea e
afirmativa. Quando olhámos para o relógio percebemos que já passava da
meia noite e era hora de dormir, chegámos ao quarto e tínhamos dezenas
de chamadas perdidas dos nossos familiares! Já estavam em pânico e a
fazer filmes dignos de um Óscar. Depois de os tranquilizarmos, fechámos
os olhos e Puf!
Foi um dia intenso, já nos tinham avisado que este
tipo de descaídas iam acontecer e que tínhamos que nos apoiar mutuamente
e confirmamos! Hoje foi o Tiago, um dia será a Telma.
Definitivamente, nenhum de nós faria esta viagem sozinho, deixava de
fazer sentido, não teríamos um ombro para chorar nos maus momentos, um
corpo para abraçar quando estivéssemos radiantes, uma mão para agarrar
quando o medo chegasse e, sobretudo, não teríamos alguém com quem
partilhar a beleza do que vamos conhecer. Se fosse só um de nós, no
regresso contaria tudo o que passou mas a emoção era só dele e não de
ambos.
“Era um castelo mesmo no pico da montanha, com um muro em pedra a fazer um circulo. ‘Tás a ver?”
“Não, não estou, Não estava lá.”
Assim, choramos, rimos, desesperamos e vivemos tudo o que há a viver juntos!
Hoje, quarta-feira, ficámos por Arraiolos e nem saímos de casa.
Descanso absoluto! Tem estado frio, vento e chuva e, felizmente, temos
apreciado tudo isso pela janela! Temos os ténis a secar e vamos tirar o
peso a mais.
Já tivemos um lanchinho com a Patrícia, um chá de
doce-lima, compotas caseiras e uns biscoitos de Alfarroba e outros de
azeite, Espelta e ervas-doces.
Logo, comemos uma sopa quentinha e vamos dormir para amanhã acordarmos cheios de energia para levar com chuva em cima!
Podem ver as fotografias, aqui!
Comecei a acompanhar-vos e senti um "déjà vue"!
ResponderEliminarForça para a aventura!
Mónica (mãe dos Nomadiclas)