domingo, 10 de março de 2013

Diário de Bordo - Dia 8 e 9

Estremoz - Badajoz

Foi a primeira vez que dormimos no chão, estreámos as esteiras e a experiência não foi, de todo, agradável! Acordámos com a sensação que tínhamos sido atropelados por um autocarro. Já estávamos engripados há uns dias e, o facto de dormirmos no chão, ajudou a que ficássemos cheios de dores no corpo. Mas tomámos o pequeno-almoço e a dose diária de medicamentos e toca a despachar!
Enquanto montávamos tudo na Abília, conversávamos com o Comandante. É camionista e ofereceu-nos boleia para Madrid ainda esta semana, agradecemos imenso mas não aceitámos, queremos realizar este desafio por nós mesmos e só em situações extremas aceitaremos uma boleia. Também nos avisou que o percurso a partir de Madrid não seria nada fácil, vamos apanhar muita montanha. Enfim, um dia de cada vez, no momento logo pensaremos nessas subidas.
A primeira paragem foi em Borba, parámos numa pastelaria pequena para bebermos um café e não resistimos a provar um doce típico do Alentejo (género de pirâmide de mel e açúcar com pedaços de bolacha) e uma fatia de salame para nos dar força. Os clientes, antes de entrar, repararam na Abília e meteram conversa.

- Então, estão a viajar? - perguntou uma cliente.
- SIm, vêm de Sintra e vão até Badajoz! - Disse a empregada.
- Sim, hoje vamos até Badajoz.
- E depois voltam para trás? - Perguntou a mesma cliente.
- Não, seguimos... Até à Noruega!
(Bocas abertas e Pasmo total)

Depois dos comentários e questões comuns (se os estudos estavam terminados, se juntámos dinheiro, quanto tempo ia durar, para aproveitarmos agora que somos novos, etc), pagámos e, enquanto saíamos, ainda conseguimos ouvir:
“Estes gaiatos...”
Até Vila Boim apanhámos algumas subidas que, como estamos constipados e só respiramos pela boca, nos fizeram soar e beber muita água. Pelo caminho, encontrámos uns caçadores que assavam um chouriço numa fogueira e perguntaram se não nos queríamos aquecer... Aquecer? Estávamos com tanto calor que se nos atirassem um balde de água fria ainda agradecíamos. Perguntámos se conheciam um sitio barato ali perto onde se comesse bem e indicaram-nos um sitio em Vale Boim. Até lá chegar, enfrentámos uma bruta subida mas acreditem que valeu a pena! Precisávamos de comida quente, pedimos uma dose de febras e deliciámo-nos! Desde as azeitonas, o pão, as febras tenras e muito bem temperadas, as batatas fritas caseiras e, para terminar, a mousse de chocolate caseira! Soube tudo muito bem e, realmente, não foi muito caro! E, quando estávamos a beber café, entraram os caçadores que tínhamos encontrado antes, acenaram contentes por nos ver!
De barriga cheia, lá voltámos ao pedal e, em menos de nada, chegámos a Elvas, onde tivemos que parar para fotografar a imensidão daquele aqueduto. Mete realmente respeito!
Só voltámos a parar na fronteira, junto à placa “España”. Para nós, aquela placa simbolizou uma vitória, o primeiro objectivo alcançado!
- Se há dois anos atrás te dissessem que ias estar agora a atravessar a fronteira de bicicleta, o que dizias? - Perguntou o Tiago.
- Ria-me e chamava essa pessoa de maluca, nem sabia andar de bicicleta. - Conclui eu.

A vida é irónica, de facto. Antes de partir, tivemos que ouvir comentários como “A grande notícia vai ser quando chegarem ao Pinhal Novo e voltarem para trás.” e “Tiago, vais ter que pedalar muito sozinho.” e, apesar de sabermos que chegar a Espanha ainda não é nada, olhar para a placa “España” fez-nos rir desses comentários.
Fizemos as últimas chamadas a custo 0 para os nossos familiares e arrancámos para a nova etapa. Ao chegar a Badajoz tivemos a sensação que atravessamos uma porta e entrámos noutra dimensão, dezenas de pessoas a deslocarem-se em bicicletas e a própria cidade fornecia condições para isso.
Ainda em Arraiolos, o Tiago viu, no Google Maps, onde ficava a casa da Elena (a rapariga que nos recebeu em Badajoz) e não é que se lembrava ao pormenor e viemos dar, sem enganos, direitinhos à casa dela? O Tiago tem um dom, tenho dito.
Antes de chegar, tivemos um grupo de miúdos a acompanhar-nos a passo de corrida, gritando “Portugal!”.
- De donde vienen?
- De Lisboa!
- Joe, lejos no?
- Bueno... Nos vamos a Noruega...
- QUE?!?! No me lo creo!
E correram em direcção a outro grupo, gritando o que tínhamos acabado de lhes dizer.
Bem, como conseguimos encontrar a casa da Elena, tocámos à campainha. Ela veio à janela dizer-nos “Hola!” e veio-nos ajudar com a carga, colocámos a Abília no prédio e subimos. Elena é muito simpática e tem uma casa acolhedora e repleta de arte. Em todas as divisões, existem dezenas de fotografias antigas e quadros. Dá gosto olhar para as paredes!
Tomámos banho, metemos a roupa a lavar e fomos ter com uns amigos dela ao centro de Badajoz, como era Sábado, vimos imensa gente na rua em espirito de “Fiesta”. Até chegar ao destino, Elena foi fazendo guia turística e mostrando um pouco da História de Badajoz. Passámos em Badajoz tanta vez e nunca tínhamos reparado em alguns monumentos realmente interessantes e bonitos.
Encontrámo-nos com os amigos de Elena, conversámos um pouco e um deles, Manoel, ofereceu-nos um mapa da Extremadura e casa no nosso próximo destino, Mérida! Fantástico! Manoel teve que ir embora e os restantes amigos tinham um concerto, seguimos então para um restaurante típico para petiscar algo. Sentámo-nos e qual não foi o espanto do casal amigo da Elena quando olharam para o lado e viram que a banda que iam ver dentro de uma hora estava sentada mesmo ao nosso lado!
Deixámos a Elena e os restantes escolherem a ementa e, desde o momento que os pratos chegaram à mesa, vimos que fizeram uma bela escolha! Provámos uns ovos estrelados com uns legumes, tudo misturado, que estava delicioso; fatias de presunto da zona que estavam no ponto e secretos de porco também muito saborosos.
O casal apercebeu-se que os membros da banda terminaram e sairam do restaurante e, despedindo-se de nós, fizeram o mesmo. A Elena, na hora de pagar, antecipou-se e ofereceu-nos aquele manjar! Agradecemos imenso!
Quando chegámos a casa já não tinhamos força nem para pestanejar e fomos dereitinhos para a cama!
O Tiago passou mal a noite, acordou todo suado e cheio de febre. Andamos a toque de medicamentos há já alguns dias e a noite em Estremoz tramou-nos ainda mais. De manhã, não estava melhor e nem se conseguia levantar, explicámos à Elena e ela disse-nos para ficarmos até amanhã, assim ele recupera e curamo-nos de vez. Aproveitámos para descansar e passear por Badajoz e amanhã seguimos para Mérida.



Até já,
T&T

Diário de Bordo - Dia 7

Arraiolos - Estremoz

Sabem o que mais me tem irritado nesta viagem? O barulho irritante e alarmante do alarme do telemóvel do Tiago! Parece uma sirene de incêndio e toca tão cedo que me deixa logo nervosa de manhã!
Supostamente, devíamos sair de casa por volta das 10h, mas a chuva batia forte no telhado e as nossas cabeças pesavam nas almofadas. Feitos preguiçosos, ficámos na cama mais um pouco. Depois do pequeno-almoço, de guardarmos o abastecimento de comida que a Patrícia nos deu e de organizar e montar todas as malas, tirámos a fotografia de despedida com a Patrícia e, por volta das 12h, começámos a dar ao pedal. Foi difícil dizer "Até um dia!" à Patrícia, uma pessoa fantástica que em três dias nos conseguiu marcar e deu-nos vontade de comprar um atrelado e trazê-la connosco!
Sobre o pedalar... Que diferença brutal! Quase voámos até Estremoz! A velocidade máxima quase duplicou e havia subidas à mesma, os braços do Tiago também se queixaram muito menos! Ficámos mesmo contentes com esta mudança da Abília, não nos arrependemos nada do que tivemos que tirar.
A meio da viagem conseguimos ver algo que já quase que não nos lembrávamos que existia: o Sol! Não consigo passar para palavras, a sensação que é. depois de tantos dias a ver o céu cinzento e a chuva a cair, olhar para cima e ver o azul vivo, as nuvens brancas e o sol brilhante! E a junção disso com a paisagem magnifica que tivemos ao longo do caminho tornou o momento perfeito!
Em duas horas, vimos dezenas de coelhos a correr sem dó nem piedade pelo mato fora. Enquanto os seguia com os olhos, apercebia-me que, em 4 dias, ainda não tinha conseguido sentir a Natureza pura do Alentejo! O cheiro, o ar, as cores... E poder apreciar tudo isso pedalada a pedalada, muito lentamente, é... mágico!
Parámos em Vimieiro para almoçar e repousar, portanto chegámos a Estremoz por volta das 16.30h. Ou seja, demorámos 2.30h a pedalar 45 km! Muito melhor!
Chegámos aos Bombeiros e pedimos abrigo para dormir, aguardámos pelo Comandante e, mais uma vez, os Bombeiros não nos falharam! Temos um ginásio gigante por nossa conta e autorização para tomar um belo banho! Como, quando chegámos, o ginásio estava ocupado, fomos passear pela cidade e comprar algo para jantar.
Nenhum de nós conhecia Estremoz e ambos ficámos surpreendidos positivamente com esta cidade! Muito bonita e catita. Reparámos que existia vida e movimento pelas ruas, o centro é histórico e tradicional, com muito comércio e sem aquele aspecto de cidade fantasma como muitas que conhecemos. Visitámos também o castelo, renovado e com paisagens lindíssimas! Adorámos o pormenor de, conforme subíamos pelas ruazinhas do castelo, podermos ver dezenas de casinhas preservadas desde a altura!
Tirámos fotografias, brincámos, rimos, passeámos e fomos ao supermercado... estávamos estafados e era hora de recolher. De volta ao quartel, tomámos banhinho, jantámos e estamos agora a usar o computador de um dos bombeiros que o disponibilizou pois não conseguíamos aceder à Internet no nosso!
Daqui pouco estamos no mundo dos sonhos e amanhã esperamos estar em Badajoz!




Até já,
T&T

quinta-feira, 7 de março de 2013

Diário de Bordo - Dia 6

Arraiolos

Hoje, ao acordar, deparamo-nos com ventos a 50 km/h! Vestimo-nos cheios de força e energia e tentámos dar uma volta pela vila, com a Abília sem carga, para avaliarmos a situação. Impossível! O vento era lateral e muito mais forte que nós! A Patrícia tem sido cinco estrelas, a casa é bastante confortável mas não queríamos nada ficar mais um dia parados, tentamos ser lógicos e, a verdade, é que com este vento faríamos um esforço absurdo e não passaríamos dos 20 km, ou seja, ficaríamos no Vimiero. Assim, amanhã com chuva mas com muito menos vento daremos o nosso melhor para chegar a Estremoz.
Hoje aproveitámos para passear por Arraiolos, parámos num café pequenino e muito regional e foi magnifico ouvir as conversas das senhoras que ali estavam. Com um sotaque alentejano acentuado, debatiam sobre o novo grande desafio da terra, coser o maior tapete de Arraiolos do Mundo, atingindo os 120 metros de comprimento. Cada uma se gabava dos seus dotes de costura e entraram quase em competição para decidirem quem era a melhor.
Depois, passámos pela Biblioteca e ficámos na Internet até a chuva parar, também gostamos do pormenor de, no geral, haver um comportamento mais reservado e comprometedor e de nos sentirmos observados, em terras pequenas é fácil reconhecer gente nova.
Ao chegar a casa, fomos pesar todo o material que retirámos das malas…

Material retirado:

- 4 tshirts (duas cada um);
- um par de calças de ganga;
- dois colchões Queshua A200 Light (ficamos com as esteiras)
- dois sacos de calor
- três sacos de gelo
- três pares de luvas de BTT
- bisnaga de Massa lubrificante
- Liquido para as lentes de contacto de 360ml (levamos um frasco pequenino de viagem)
- uma lanterna de dínamo que não funciona muito bem
- dois lençóis para saco de cama;
- uma corda com 20 m
- bisnaga de cola
- agrafador e recargas
- espelho
- borracha
- dois copos
- um bloco de post it
- saca correntes (avariado)
- fio de pesca
- um isqueiro (temos outro)
- duche solar
- bloco de notas (temos um caderno)
- três bilhas de gás de 220g
- creme hidratante

Calculem lá o peso que isto tudo tinha?
8,200 kg!!!

Temos a certeza que se vai notar a diferença e estamos cheios de vontade de comprovar amanhã!
Ficámos contentes pois a corda, o creme e a borracha terão mais utilidade com a Patrícia. :)
O jantar hoje foi feito por nós. Uma bela e calórica massa com natas e delicias do mar! Bebemos um chá de chocolate para me inspirar e agora: Ala! Para a caminha!
Amanhã é dia de partida e de um novo “Até um dia!”

quarta-feira, 6 de março de 2013

Diário de Bordo - Dias 4 e 5

Montemor-o-Novo - Arraiolos

Assim que nos deitámos, entrámos no mundo dos sonhos. Estávamos preparados para, a qualquer momento, saltar da cama com a buzina dos bombeiros caso houvesse alguma emergência mas, a única coisa que nos acordou, foi o nosso despertador às 8 horas. Estávamos exaustos, ficámos na ronha um bom bocado mas lá teve que ser. Higiene feita e roupa vestida, bora lá para a tarefa diária de colocar tudo na Abília - 45 minutos! Comemos qualquer coisa e fomos agradecer ao Comandante, extremamente amável, por todo o apoio que nos deram. O sol brilhava, mas o céu estava a escurecer e, como já estávamos “escaldados”, vestimos os impermeáveis e seguimos viagem, isto às 10.30h.
Ainda estávamos doridos do dia anterior e durante o caminho, já a chover, começámos a fraquejar e tivemos que parar a meio do caminho. Sentámo-nos no chão, colocámos o toldo por cima de nós e, comendo uma maçã, olhámos para o Além e pensámos (desesperando) “Quando é que esta M**** de tempo vai passar?!”... Ficámos ali um bom bocado, a chuva abrandou, parou e começou novamente... Bem, vamos lá!
Esquerda, direita, esquerda, direita... O Tiago pára. “Já não aguento mais! Fiquei sem forças.”
Doía-lhe imenso os braços, a Abília estava muito instável e exigia muita força de braços para a controlar e o vento não ajudava em nada. Sentámo-nos novamente, desta vez sem chuva. Foi o primeiro momento de desespero, o primeiro teste, a primeira resistência. A Telma não esperava aquela reacção do Tiago, ficou quase como paralisada mas percebeu que tinha que agir. Abraçou-o, tentou, com calma, fazer-lhe ver que desistir era a última coisa a pensar. Depois de uma boa e longa conversa, os ânimos voltaram e apareceram soluções mais lógicas como, revermos o que temos e tirar a carga que poderá estar a mais e que seja dispensável.
Voltámos a pedalar e, a 7km de Arraiolos, avistámos uma estação de serviço que ouvimos a chamar por nós! Parámos, estacionámos a Abília e fomos comprar um gelado para nos alegrar o dia e acomodar o estômago com um pouco de açúcar. Ficámos na esplanada (com toldo) a olhar para a chuva a cair sem dó e começámos a fazer uma lista mental do material que podíamos tirar. Entretanto, dois caçadores saem do café e...

- Bah! Acho que deixei uma fresta da janela aberta! O meu banco deve estar todo molhado! - Disse um deles.
- Já nós não temos esse problema, o nosso é descapotável. - Disse o Tiago, rindo e apontado para a Abília.
- Então? Vocês estão a andar de mota com este tempo?!! - Exclamou o caçador.
- Não, é mesmo uma bicicleta! - Dissemos quase em coro.
- Ai! E vão os dois ali? Que loucura! Vão pra longe?
- Para a Noruega!
- Meu Deus!!! Isto é que é aproveitar a vida! Muito bem! Gabo-vos a coragem! Força han! - Disse enquanto saía.

Quando a chuva passou, retomámos caminho, muito mais animados e com mais energia. Víamos uma subida (foram bastantes!) e riamos dela, desfrutámos ao máximo das descidas (uma delas a 55km/h) e tirámos algumas fotografias. Quando estávamos a chegar, começou a chover e procurámos um abrigo, mandámos mensagem à rapariga de Couchsurfing que estava à nossa espera e disse-nos que morava ao pé dos Bombeiros, que já tínhamos visto que estávamos perto, então subimos uma rua e chegámos em menos de 5 minutos. Conhecemos a Patrícia, colocámos a Abília na garagem, levámos as malas para o “nosso” quarto e respirámos fundo! Finalmente debaixo de tecto! Conversámos um pouco com a Patrícia para nos conhecermos melhor, percebemos logo desde inicio que era uma excelente pessoa, muito simpática, mente aberta e gosta de conhecer e descobrir. Ela tinha que sair e deixou-nos a chave caso quiséssemos passear, despimos os impermeáveis molhados, calçámos as botas secas e fomos passear por Arraiolos. É uma terra muito bonita, tradicional e catita. Fomos ao supermercado comprar o belo do pão alentejano e algo para beber e seguimos para o castelo que estava no topo da cidade. Ao subir as escadas até lá, íamos apreciando a vista magnifica da zona, escolhemos um sitio para lanchar, sentámonos e, quando estávamos a deliciar-nos, começa a chover! Vá de correr, nada de abrigos, restou-nos a entrada em pedra do castelo. Passada uma hora, a chuva parou e lá fomos a passos largos até casa, onde tomámos um banho quente.
Quando a Patrícia chegou, preparou um jantar vegetariano, um género de legumes salteados e cogumelos (gourmet!) com couscous que estava maravilhoso.
Conversámos tanto, que nem demos pelo tempo passar. Vimos o tempo para o dia seguinte e ia chover a potes e fazer muito vento, também precisávamos de descansar e ganhar forças para voltar a pedalar então pedimos à Patrícia para ficar mais um dia e a resposta foi instantânea e afirmativa. Quando olhámos para o relógio percebemos que já passava da meia noite e era hora de dormir, chegámos ao quarto e tínhamos dezenas de chamadas perdidas dos nossos familiares! Já estavam em pânico e a fazer filmes dignos de um Óscar. Depois de os tranquilizarmos, fechámos os olhos e Puf!
Foi um dia intenso, já nos tinham avisado que este tipo de descaídas iam acontecer e que tínhamos que nos apoiar mutuamente e confirmamos! Hoje foi o Tiago, um dia será a Telma. Definitivamente, nenhum de nós faria esta viagem sozinho, deixava de fazer sentido, não teríamos um ombro para chorar nos maus momentos, um corpo para abraçar quando estivéssemos radiantes, uma mão para agarrar quando o medo chegasse e, sobretudo, não teríamos alguém com quem partilhar a beleza do que vamos conhecer. Se fosse só um de nós, no regresso contaria tudo o que passou mas a emoção era só dele e não de ambos.

“Era um castelo mesmo no pico da montanha, com um muro em pedra a fazer um circulo. ‘Tás a ver?”
“Não, não estou, Não estava lá.”

Assim, choramos, rimos, desesperamos e vivemos tudo o que há a viver juntos!

Hoje, quarta-feira, ficámos por Arraiolos e nem saímos de casa. Descanso absoluto! Tem estado frio, vento e chuva e, felizmente, temos apreciado tudo isso pela janela! Temos os ténis a secar e vamos tirar o peso a mais.
Já tivemos um lanchinho com a Patrícia, um chá de doce-lima, compotas caseiras e uns biscoitos de Alfarroba e outros de azeite, Espelta e ervas-doces.
Logo, comemos uma sopa quentinha e vamos dormir para amanhã acordarmos cheios de energia para levar com chuva em cima!


Podem ver as fotografias, aqui


Diário de Bordo - Dia 3

Vendas Novas - Montemor-o-Novo

Quando nos levantámos, estávamos sozinhos, mas tínhamos na mesa da cozinha um pouco de tudo para comermos um belo pequeno-almoço! De facto, a nossa primeira experiência com Warmshowers/Couchsurfing deixou-nos mal habituados com o bem que fomos tratados!
Decidimos que deveríamos tirar tudo das malas e organizar melhor, dividimos tudo e colocámos em sacos de plástico... Roupa para um lado, roupa interior para outro, higiene num saco, medicamentos noutro, comida em cima, polares em baixo... Agora está tudo muito mais organizado e acessível! Sabíamos que ia estar um péssimo dia mas, ficar parados um dia não ia ajudar em nada, assim que preparámonos para dar ao pedal. Montámos tudo na Abília, impermeabilizar-nos a nós e às malas, despedimo-nos da família do Artur que nos deu um saco com comida e partimos por volta das 14 horas.
Durante metade da viagem levámos com vento forte de frente e outra metade com chuva pela cara! Confessamos que o vento consegue ser pior que a chuva, descontrola por completo a bicicleta, temos que fazer o dobro da força para pedalar e nem notamos quando estamos a descer. Atravessámos imensas subidas e algumas muito complicadas, quando tínhamos pouca berma para andar preferimos ir a caminhar pois a pedalar perdíamos muito facilmente o controlo da bicicleta e podíamos virar para a estrada de repente.
Parámos umas cinco ou seis vezes para descansar e comer uma peça de fruta. Não foi um dia fácil mas, mesmo assim, conseguimos soltar algumas risadas com piadas um do outro.
Chegámos a Montemor (Finalmente!) e, para nos felicitar pela nossa chegada, o Céu largou uma tromba de água daquelas para nos refrescar a alma. Não tínhamos onde ficar, assim que procurámos os Bombeiros. A pé, a rastejar com os pés pelas valetas que pareciam lagos, a escorrer água do cabelo até à boca, lá fomos nós, cidade acima, à procura dos nossos salvadores! Achámos o nosso Oásis, estacionámos a Abília na garagem e procurámos alguém, explicámos a situação e o senhor, bastante simpático, disse-nos que teria que pedir autorização ao Comandante. Esperámos uns minutos, nervosos e ansiosos, pois se a resposta fosse negativa, não sabíamos para onde ir naquele estado, mas, felizmente, o senhor veio ter connosco e encaminhou-nos para um sitio onde deixámos a Abília e depois para uma camarata vazia onde pudemos tomar banho, comer e estamos agora deitados prontos a dormir.
Obrigada Bombeiros de Montemor pela ajuda e pelo apoio quando mais precisámos.

Amanhã rumo a Arraiolos pois, com este temporal, não conseguimos ir mais longe!
O sol há-de chegar!


Podem ver as fotografias deste dia, aqui!

Até já!
T&T


Diário de Bordo - Dia 2

Montijo - Vendas Novas

Malas feitas, fomos dormir... Fechámos os olhos e passa-nos tudo pela cabeça até nos deixarmos dormir (já tarde).
O irmão da Telma e uma amiga dormiram em nossa casa, quando o despertador tocou, andou tudo numa correria... gritos para aqui, roupas para ali... Muitas dúvidas e incertezas pairavam na nossa cabeça mas não queríamos dar a entender aos outros.
Tivemos a visita de um amigo do Tiago antes de sairmos de casa e um outro amigo foi ter connosco para nos acompanhar. Qual o nosso espanto quando chegámos ao ponto de encontro, em frente à Igreja, e vemos cerca de 30 pessoas à nossa espera! O Grupo de Ciclismo do Afonsoeiro, amigos ligados à loja Mais Pedal, família e alguns curiosos que por ali passavam, todos eles deram-nos muita força e desejaram-nos sorte nesta aventura. Tirámos bastantes fotografias, despedimo-nos com emoção das pessoas mais queridas e partimos.O grupo de Ciclismo do Afonsoeiro acompanhou-nos até pouco antes das Faias e seguiram a sua viagem, já os nossos amigos da Mais Pedal deixaram-nos em Loja Nova, depois de nos terem oferecido uma bela bifana num restaurante onde o senhor, depois de ver o jornal e a nossa história, nos prometeu que, se quando terminássemos a viagem voltássemos ao restaurante, nos oferecia um Cozido à Portuguesa e até nos tirou uma fotografia para se lembrar da nossa cara!
Depois da barriga cheia, continuámos sozinhos e tivemos uma sensação estranha. Sabíamos que a partir dali estávamos por nossa conta e, além disso, tivemos mais tempo para pensar, recordar e lacrimejar. Algumas pessoas que deixámos no Montijo, são muito importantes para nós, faziam parte do nosso quotidiano e é duro o choque inicial mas sabemos que essas pessoas não desapareceram e que estarão sempre conosco!
Chegámos a Vendas Novas por volta das 15 horas, encostámos a Abília, sentámo-nos num banco junto à estrada, sacámos de um saco de gomas oferecido, adoçámos a boca enquanto olhámos para o Infinito e, não tendo nada no pensamento, pensávamos em tudo.
Tivemos ali uma hora, até que apareceu a família do Tiago, o irmão da Telma e um amigo. Fomos comer as famosas Bifanas de Vendas Novas e uma canjinha quente que soube a ouro! Aquele convívio foi agradável e aproveitámos cada minuto.
A parte mais dificil, a despedida definitiva, trouxe com ela mais umas lágrimas... Recebemos centenas de conselhos como se não houvesse amanhã e ouvimos “Toma bem conta dele/a!” de ambas as partes. Não sabem eles que cada um de nós vê a vida do outro mais importante que a própria.
Quem se lembra do Kim, o coreano que ficou em nossa casa há um tempo? Antes de chegar a nossa casa, passou por Vendas Novas e teve um amigo de Warmshowers que lhe ofereceu casa, falou-nos maravilhas dele e deu-nos o seu contacto. Onde acham que passámos a noite? Pois é! Na casa desse mesmo amigo, Artur!
O Artur esteve a trabalhar durante o dia, por isso, só se encontrou conosco por volta das 19 horas. Depois de falarmos, apercebemo-nos que o supermercado que estava a um metro de nós era dos pais dele e que, por coincidência, não os encontrámos antes. Colocámos a Abília nas traseiras do supermercado e fomos jantar. Toda a familia foi extremamente simpática e atenciosa, conversámos e comemos bastante! Comidinha caseira e pão alentejano e como o Artur já tem experiência em viagens deste género tivemos muito que conversar! Para nos instalarmos, tivemos que nos montar na Abília e andar uns 2 km para trás até à casa do Artúr. Disse “casa”? Desculpem, Palácio! Linda, bem decorada e bastante espaçosa. Adorámos o nosso quarto e o banho quente.

Podem ver as fotografias deste dia, aqui.



sábado, 2 de março de 2013

Diário de Bordo - Dia 1


Cabo da Roca - Montijo



Esta última semana tem sido uma loucura, a Telma esteve a trabalhar até Quarta-feira e tivemos que tratar de tudo à última da hora e vimos o dinheiro a voar numa velocidade brutal. 

Na quinta-feira estivemos a fazer uma simulação, enchemos as malas com quase tudo o que pretendemos levar e montámos tudo na Abília... ficámos em choque! Levar uma bicicleta para dois tem imensas vantagens, mas uma das desvantagens é ter que pôr a bagagem de dois num só transporte! Mesmo reduzindo ao máximo é inevitável encher a Abília. Hoje, estudaremos uma melhor forma de transportar tudo.

Na sexta-feira, não levamos toda a bagagem, não fazia sentido visto ainda virmos dormir a casa, mas para que nos habituássemos a conduzir a bicicleta com carga levamos os alforjes com casacos, água, ferramentas, ou seja, cerca de 20 kg de carga. 

Ás 9h. depois de colocar a Abília e mais três bicicletas na carrinha do pai do Helder que se ofereceu para nos acompanhar, arrancámos do Montijo, juntamente com alguma família e amigos, rumo ao Cabo da Roca. Apanhámos algum trânsito no caminho, o que nos atrasou um pouco a hora prevista de chegada para as 10.30h. Quando chegámos, já tinhamos à nossa espera a Susana e o Rui, um casal praticante de Trial, que nos quiseram apoiar e tirar umas fotos. Foram bastante simpáticos, deram-nos algumas dicas e disseram-nos algo que ainda nos deu mais força para concretizar a viagem com sucesso, depois de nos conhecerem e ao projecto estão a pensar correr o Mundo de bicicleta! É bom para nós, no meio de tantos “eu gostava mas não posso” ouvir alguns “nós também vamos/queremos fazer algo assim”. 

Apesar de não ser a despedida definitiva, houve alguma emoção no ar e, com a quantidade de fotos que tirámos, tivemos a sensação que estávamos no nosso casamento. Luvas e capacete postos, iniciámos viagem por volta das 11.30h.

Logo ao início apanhámos subidas um pouco acentuadas, tentámos fazê-las montados na Abília mas chegámos à conclusão que era tempo perdido. Com o peso da carga frontal, o volante começa a decidir as direcções sozinho, o que nos impossibilita de o contrariar, e a velocidade que atingimos não é muito maior do que a pé, portanto não justifica o esforço.

A primeira paragem foi em Cascais, encostámos as bicicletas e fomos almoçar com a família e amigos ao Mc’Donalds, não havia lugares na esplanada, tivemos que escolher uma mesa de onde as pudéssemos controlar. Depois parámos em Parede para tirar algumas fotos, voltámos a parar junto à Torre de Belém para o mesmo efeito e depois junto aos Pastéis de Belém para comermos os últimos este ano e bebermos um café. Souberam a ouro!

Chegámos ao Cais Sodré as 17:50h e tinhamos barco às 18h! Fantástico!  Encostámos a Abília a outra bicicleta e fomos nos sentar. Após chegarmos ao Montijo, encontrámos o dono da outra bicicleta que nos perguntou se íamos para longe, ficou espantado com a resposta e desejou-nos sorte!

Podem ver as fotografias do primeiro dia aqui

Hoje, estamos a descansar e tratar dos últimos pormenores, fisicamente estamos bem, o primeiro dia surpreendeu-nos pela positiva, correu tudo muito bem e por enquanto não sentimos dores fortes. Já psicologicamente, estamos um pouco saudosistas a despedirmo-nos de coisas básicas como ver televisão, comer à mesa, tomar banho quente... Olhamos para as coisas e imobilizamo-nos durante breves segundos, “Quando voltaremos a ver isto?”, pensamos. É uma sensação estranha, ambos  somos um pouco desligados e não nos custa sair de casa e andar por aí, não pensávamos que fossemos reflectir tanto sobre tudo. 

Já tivemos o último pequeno-almoço na cama, o último almoço no nosso fogão e na nossa cozinha, a última tarde de preguiça...

A televisão já não está no quarto, já tivemos que ligar a música no computador... e a nossa Minhoca (cobra) também já está no seu novo lar. 

Ainda virá o último jantar na avó da Telma, a última dormida e o último despertar na nossa cama...

E ainda falta o último “Até depois!”...