sábado, 4 de maio de 2013

Diário de Bordo - 12 de Março de 2013 - Dia 11


Mérida - Trujillo
85km média de 13 km/h 6h a pedalar

Tivemos que acordar cedo, para sair de casa com a Conchi que ia trabalhar, bebemos café e provámos uns bolinhos regionais da terra dela. Quando saímos de casa já estava a chover, Conchi recomendou-nos, para o nosso pequeno-almoço, um chocolate quente com churros de um quiosque perto de casa e não resistimos. Os churros são mais típicos  no Norte de Espanha, mas, pelo que nos disseram, já se começaram a espalhar por toda a Espanha. Estávamos à espera de churros do tamanho dos que encontramos nas feiras populares em Portugal e, por isso, pedimos meia dúzia para dividir pelos dois, ficámos surpreendidos quando nos aparece à frente um prato todo preenchido de churros que mais pareciam farturas! O chocolate quente soube muito bem e os churros estavam bons mas só conseguimos comer quatro, ficámos surpreendidos com o preço, os seis churros custaram 1,25€. Sabemos que este não foi dos pequenos almoços mais saudáveis, mas foi um pequeno deslize. 

Quando estávamos já montados na Abília, veio ter connosco uma rapariga bastante apressada e começou a falar meio “baliês” meio por gestos, provavelmente por ter percebido que éramos estrangeiros e acompanhei-a até à mesa onde estávamos sentados, aí percebi que ela pensava que a mala que estava presa na cadeira era nossa mas, na verdade, era do senhor que já lá estava sentado.

Achámos curioso encontrar, ao longo do caminho, centenas de lesmas e daquelas grandes e gordas. O Tiago foi-se desviando delas, andando em zigue-zague pela estrada mas ainda bem que o fez, que só de me imaginar a esmaga-las já me agoniava. 

A aventura começou mais cedo do que pensávamos, ainda não tínhamos chegado à montanha e o verbo “subir” já fazia parte do caminho, percorremos cerca de 10km no meio do nada com umas subidas bem generosas.

Quando chegámos a Alcuescar, já passava das 15h e quando perguntámos por um super-mercado, como os supermercados fechavam às 14h, mandaram-nos para o restaurante mais barato da zona que, por acaso, tinha um Dia mesmo ao lado e ainda estava aberto, claro que aprovetámos. Assim que saímos, os pobres empregados, que estavam à nossa espera, fecharam as portas e nós, cheios de fome, comemos mesmo ali, sentados na rampa das descargas. 

Depois do almoço e de retomarmos caminho, ficámos de boca aberta, não porque continuávamos com fome, mas sim pelo que estávamos a ver, a serra de Montanchez! Para algumas crianças, o nome “Papão” provoca pesadelos mas, para nós, passou a ser “Montanchez”. Não é uma serra monstruosa mas, como é curta, a inclinação é super acentuada. Foi neste momento que nos apercebemos que a tandem não foi feita para subir pois, para além de estar carregada, não existe sintonia entre nós os dois para pedalar em pé e, com o auxilio do conta-quilómetros, concluímos que somos mais rápidos a caminhar com a Abília ao lado do que a pedalar.

As curvas na montanha dão cabo de mim... É como estar a ver a luz lá no fundo, pensar que depois da curva temos uma bela e alucinante descida, imaginar o ventinho a bater-nos na cara e, segundo a segundo, pedalada sofrida a pedalada sofrida, muito lentamente, percebo que não há descida e vou avistando a estrada que continua a subir e a subir...

Parámos dezenas de vezes para respirar fundo e beber água, tenho que admitir que não foi fácil. Notei que os momentos maus são alimentados por pensamentos negativos, enquanto me esforçava a subir queria pensar em memórias boas que me dessem ânimo mas, não sei porquê, só me lembrava de momentos infelizes do passado que me provocavam ainda mais tristeza, raiva e até desespero. 

Claro que nem tudo foi mau, na montanha pudemos desfrutar de coisas únicas e exclusivas daquele ambiente como das cores, do verde vivo, dos pequenos riachos, dos pássaros e dos seus diferentes sons, das dezenas de vacas e ovelhas super pacíficas e com um ar alegre... Sentimo-nos num mundo à parte, tivemos momentos só nossos e tivemos a sensação de liberdade extrema. Atenção! Isto tudo foi vivido antes e depois de subir, claro! Ao longo das subidas só sentíamos as gotas de suor a escorrer pela cara!

Aproveitamos este momento para desmentir aquele velho ditado que diz que “tudo o que sobe, desce” pois, neste caso, a descida quase não se notou e depois ainda tivemos que passar por quatro terras de sobe e desce até ao destino. 
Tivemos que parar em Cumbre, uma terra a 8km de Trujillo, para comer algo e ganhar forças que já eram praticamente nulas. Estávamos rebentados tanto física como psicologicamente, já nos doía o corpo todo e só queríamos um sitio para dormir, portanto foram os 8 km mais longos da nossa vida e cada metro custava a alcançar. Quando vimos a irmã e o sobrinho da Conchi a acenar foi como um “ALELUIA!”, o Pablito (sobrinho da Conchi) esteve toda a tarde à janela à nossa espera mas, infelizmente, chegámos umas horas mais tarde do que o previsto.

Depois de um banho e de descansarmos, jantámos juntos à volta do aquecedor e tivemos a ajuda do casal a encontrar o melhor caminho para o dia seguinte.

Fomos para a caravana, brutal! Nunca tínhamos dormido em nenhuma e ficámos bastante entusiasmados, adoramos este tipo de conceitos para viajar e é algo a pensar para um futuro. Era super acolhedora e demorámos pouco a adormecer.

Até já,
T&T

2 comentários:

  1. Respostas
    1. Não, passámos a usar só o Facebook porque em viagem era mais prático e rápido. Vou colocar agora aqui a foto do final da nossa viagem!

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